A partir de hoje (1º) e durante todo o mês de julho, a bandeira tarifária será amarela, como anunciado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Condições climáticas desfavoráveis para a geração de energia no país foram o motivo por trás dessa mudança. Com essa ativação, as tarifas nas contas de luz dos consumidores serão incrementadas em R$ 1,885 a cada 100 kWh consumidos.
Traduzindo para uma linguagem mais simples: a conta de luz vai subir. Para ilustrar, com a bandeira amarela, uma conta de luz de R$ 100 passaria para R$ 102,60 com esse acionamento.
O valor foi aprovado pela Aneel em março deste ano, quando houve uma redução de 37% no custo da bandeira amarela, que diminuiu de R$2,989/KWh para R$1,885/KWh.
Segundo a agência, a bandeira amarela foi acionada devido à previsão de chuvas abaixo da média até o final do ano (em aproximadamente 50%) e pela expectativa de aumento na carga e no consumo de energia no mesmo período.
“Essa situação de escassez de chuvas, somada ao inverno com temperaturas acima da média histórica do período, faz com que as termelétricas, que possuem uma energia mais cara do que as hidrelétricas, operem mais”, informou a Aneel.
O especialista econômico da Remessa Online, André Galhardo, indica que a transição para a bandeira amarela pode empurrar a inflação para perto do topo da meta em 2024, de acordo com suas projeções.
“A mudança da bandeira verde para a amarela na conta de luz aumentará os custos de produção, o que pode resultar em um possível repasse para o consumidor final. Ou seja, isso pode elevar os preços de produtos e serviços”.
“Internacionalmente, o preço do barril de petróleo Brent para setembro de 2024 tem mostrado uma trajetória ascendente, à medida que as tensões geopolíticas no Oriente Médio parecem se intensificar. Nos últimos dias, os riscos de confrontos na fronteira entre Israel e Líbano aumentaram, e, se isso acontecer, abriria um novo cenário nos conflitos na região, trazendo mais incertezas sobre o mercado de petróleo”, acrescenta o especialista da Remessa Online.
Ele explica que possíveis aumentos nos preços do petróleo, aliados ao real desvalorizado, ampliaram a disparidade dos preços dos combustíveis (gasolina e diesel) no Brasil em relação ao preço de paridade de importação (PPI). “Embora essa diferença já tenha sido maior durante o ano (meados de abril), os números de junho mostram uma tendência de aumento para os valores mais altos vistos em 2024.”
Galhardo reconhece que todos esses eventos são pontuais até o momento. Para ele, a questão é que todos esses fatores podem se tornar elementos duradouros, dependendo de fatores como as condições hidrológicas e a demanda por energia.
Em resumo, se o mercado incluir em suas projeções o risco de a inflação subir, isso terá alguns efeitos:
– A Selic tende a permanecer alta e, em algum momento, o Copom pode considerar aumentar a taxa, caso a situação se mostre tão negativa;
– Na renda variável, a notícia é ruim para a bolsa, já que tende a tornar a renda fixa mais atrativa e pressionar as margens de lucro das empresas;
– E o câmbio pode responder a essa situação com a desvalorização do real, principalmente pela saída de capital de investimentos do mercado interno.
Porém, isso não significa que esses eventos realmente vão ocorrer. Existem uma série de fatores que podem atuar no sentido contrário, inclusive contendo a alta dos preços no Brasil. Afinal, se os próximos dados de inflação e emprego nos Estados Unidos confirmarem que o mercado suporta taxas de juros mais baixas (com sua inflação convergindo para a meta de 2%), o banco central americano pode sinalizar a proximidade do ciclo de cortes de juros.
Isso aliviaria substancialmente a situação para o Brasil em praticamente todos os aspectos: câmbio, bolsa e juros. Além disso, a sinalização do governo sobre os esforços para revisar os gastos e cumprir as regras fiscais também pode contribuir para aliviar a situação do país.
Há riscos embutidos nesse cenário que podem simplesmente não se concretizar. Por exemplo, a possibilidade do conflito no Oriente Médio se acalmar em parte, ou um fenômeno meteorológico trazer mais chuva para o Brasil, permitindo que a bandeira volte para verde. E também não está fora de cogitação que o ressurgimento da inflação em julho seja apenas uma ocorrência isolada.

Henrique Pazin – Conhecido como “HP”
Assessor de imprensa e redator desde 2012, viajante & workaholic